É estranho para mim defender qualquer coisa de carnaval: o evento é hipercomercializado e envolve negociações muito preocupantes, há muito os desfiles são caros demais para o povo e nunca foram em horário acessível, e mais que qualquer coisa, o povo não precisa de festas. O povo brasileiro está há muito bêbado de festividades e elegendo que donos de bar sejam líderes.
Dito isto, uma pequena porção apenas do desfile da Mangueira me fez lembrar de algo que nos escapa já faz tempo: quando o povo se une, ele pode viver apesar de tudo, sem submissão.
Tudo começou quando o último dono saiu, um novo chegando e transformando o bar em um bar de ópio do povo. E, eu devo confessar que eu fui a favor do corte no dinheiro das escolas de samba.
Nos tempos difíceis em que estamos, é natural o corte de festas. Deve-se beber menos quando a cachaça está taxada a um preço assustador. Fica-me claro, em retrospecto, que tal coisa não poderia ser meramente decretada sem causar problemas. O futuro ex-prefeito queria usar o dinheiro para serviços para o povo, em reunião ele poderia discutir quanto seria um corte mais aceitável num primeiro momento, e como usar o dinheiro de forma a beneficiar mais as comunidades das escolas, talvez até exclusivamente estas no início para deixar claro que não é por ele pessoalmente não gostar da festa.
Entretanto, há uma diferença imensa entre "não temos dinheiro" e "isso não é de deus." O nepotismo, assim como a implementação de regras que permitem o fechamento de eventos sem motivos tornam claro que o futuro ex-prefeito não tem interesse nenhum em fazer pelo povo, mas apenas em fazer por si e os seus.
Que fique claro, eu continuo não gostando do desfile das escolas como já gostei quando criança, pois da última vez que o cristo coberto de preto passou pela avenida era claro e óbvio que não havia porque qualquer se curvar à uma instituição religiosa. É realmente uma pena vermos a prefeitura entrar nesta categoria, mas é correto se gastar menos com festa. O custo tremendo não é muito justificável na melhor das épocas.
Da mesma forma, vendo o desfile da mocidade -que mostra madre Teresa de Calcutá como se não se soubesse de seus pecados -Estamos longe de poder dizer que o carnaval é necessário. A perpetuação de mitos é um argumento contra.
O poder do Carnaval com c maiúsculo está em desfiles como o da Mangueira. Está em falar sobre a sua comunidade. Está em ser a voz do povo.
Ninguém precisa de desculpa para sambar, ou de uma versão maior da festa de todo fim de semana. Precisamos de crírtica social, de significado. Precisamos ter um motivo para o espetáculo, ou ele será como tantos outros para os quais não vamos por falta de dinheiro ou por ser só mais um dentre tantos outros.